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MARK TWAIN Quando Mark Twain (1835-1910), famoso escritor e humorista americano visto ao lado numa ilustração de 1867, visitou o Egito no século XIX, ele descobriu um uso sem precedentes para as múmias. Uma via férrea estava sendo construída para cruzar o Egito e os trabalhadores usavam múmias como combustível para as locomotivas em lugar do carvão. Como elas estavam frequentemente cobertas ou cheias de betume ou piche, provavelmente queimavam bastante bem. Twain brincou dizendo que ouvira um engenheiro amaldiçoar as múmias das pessoas comuns que não queimavam bem quando comparadas às múmias reais. Entretanto, ninguém sabe se um tipo de múmia queimaria melhor do que o outro e o relato de Mark Twain sobre múmias usadas como combustível é o único que se conhece. Além disso, ninguém sabe quantas múmias foram destruídas desta maneira e nem mesmo se esta é uma história verdadeira ou não, já que Twain certamente tinha um excelente senso de humor. É possivel que tudo não passe de uma invenção dele. Mas, considerando-se as coisas terríveis que as pessoas fizeram com as múmias durante anos, não seria impossível.

Ladrões de tumbas foram surpreendidos algumas vezes por fatos inusitados. Um desses casos foi narrado pelo egiptólogo inglês Sir E. A. Wallis Budge. Por volta de 1800 da nossa era caçadores de tesouros fizeram uma festa quando encontraram, em um tumulo próximo de algumas pirâmides, um grande jarro lacrado contendo mel. Gulosamente começaram a devorar o mel com fatias de pão. Depois de comerem alguma quantidade do alimento, um dos ladrões notou fios de cabelo por cima do mel. Ao tentar tirá-los, foi surpreendido ao perceber que algo estava preso a eles. Puxou os cabelos firmemente e saiu do jarro o corpo de uma criança completamente vestida que tinha sido preservada no mel. Uma história proveniente de outra fonte conta que um ladrão tentava levantar a pesada tampa de pedra de um sarcófago quando esta caiu sobre ele, matando-o. Ninguém sabe se morreu instantanemente ou se ficou ali agonizando por horas sem conseguir se livrar do enorme peso.

BELZONI Em 1821, Giovanni Battista Belzoni, um engenheiro de porte gigantesco contratado pelo Museu Britânico de Londres para adquirir antiguidades no Egito, publicou um relato de seu trabalho iniciado quatro anos antes. Ele descreveu o que aconteceu com algumas múmias por ele descobertas em 1817. Depois de percorrer passagens sinuosas dentro de uma tumba, seu cansaço era tanto que ele procurou ali mesmo um lugar para sentar. Infelizmente, ele acabou sentando sobre uma múmia que desmoronou sob seu peso. Ele narra:

Eu afundei completamente entre as múmias quebradas, com um estrondo de ossos, trapos, e caixas de madeira que levantaram tanto pó que me mantive imóvel durante um quarto de hora, esperando até que o pó baixasse novamente. Eu não pude deixar o lugar, porém, sem aumentar a poeira, e a cada passo que eu dava eu esmagava uma múmia aqui ou ali.
Em uma passagem estreita da tumba atopetada de múmias:
Eu não pude passar sem por minha face em contato com alguns destes egípcios deteriorados; mas como a passagem se inclinava para baixo, meu próprio peso me ajudou; porém, eu não pude evitar de ser coberto por ossos, pernas, braços, e cabeças que rolavam da parte de cima. Assim eu prosegui de um tumba para outra, todas cheias de múmias empilhadas de várias maneiras, algumas em pé, algumas deitadas e algumas de cabeça para baixo.

UMA MÚMIA DE TEBAS Cientistas alemães descobriram em múmias egípcias o que provavelmente sejam os casos mais antigos de malária. A pesquisa, concluída em outubro de 2008, examinou amostras de tecido ósseo de mais de 90 múmias encontradas na antiga Tebas, atual Luxor, datadas do período entre 3500 a 500 a.C. Duas múmias de adultos, de tumbas separadas, apresentaram tecidos que contêm DNA antigo de um parasita conhecido por causar malária. Havia alguns sinais moderados de anemia crônica. Embora os corpos não estivessem identificados, o local das tumbas na necrópole sugere fortemente que eram pessoas pertencentes à classe alta egípcia. A presença de doenças infecciosas como esta no antigo Egito explica a baixa expectativa de vida daquele povo, com muitos habitantes morrendo entre 20 e 30 anos de idade. Esse trabalho visa encontrar pistas sobre como e porque os organismos causadores da doença evoluem e sofrem mutações. Isso pode ter um tremendo impacto na medicina moderna, ja que ajudará a entender como estas doenças mortais puderam infectar os humanos. Esse conhecimento pode ajudar a achar estratégias que previnam a introdução de novas doenças infecciosas, ou evitem o re-aparecimento das antigas. Mesmo com os avanços da medicina atual, milhões de pessoas morrem todo ano de malária, doença para a qual não existe qualquer vacina efetiva. Na foto acima, uma das múmias encontradas na necrópole de Tebas.

UMA MÚMIA DE ÍBIS Assim como as múmias humanas eram enterradas com comida para alimentá-las no além-túmulo, o mesmo ocorria com os animais mumificados. Os antigos egípcios colocavam comida na boca, no estômago ou ao lado das múmias de animais. Caracóis inseridos pelos embalsamadores foram encontradas dentro de aves íbis sagradas, como vemos na foto ao lado. Assim, os pássaros recebiam tratamento para seu sustento continuado na vida após a morte indicando que o bem-estar deles no além era importante para as crenças egípcias. Consequentemente, é provável que eles fossem muito respeitados enquanto vivos. Os principais órgãos internos das aves também eram retirados da mesma forma que ocorria com as pessoas. Tâmaras e frutos da jujubeira foram encontradas junto de macacos e, às vezes, leite era colocado ao lado de gatos em suas tumbas. Não resta dúvida, também, que alguns bichos eram mortos para servirem de oferendas às divindades, enquanto outros eram considerados animais de estimação.